domingo, 13 de dezembro de 2009

Sangue eslavo

A voz fraca, pronunciada pelos lábios flácidos, deixa perceber um leve sotaque estrangeiro. Os dois erres são sempre fortes, como os dos italianos, mas a origem de Estephano Estaianov está longe de ser latina. O pai veio da Bulgária, junto com o avô, e conheceu em "em algum lugar de São Paulo" uma polonesa com quem se casou "no ano 26", lembra Estaianov, exclamando seu orgulho com as rugas da testa clara e manchada pelo tempo.

Há quase duas décadas, depois de plantar café no interior do Paraná (onde nasceram seus cinco filhos) por outros anos 40, ele veio tentar a sorte em Ivinhema. "Trabalhava de chinelo mesmo, com o veneno [da lavoura] nos pés. Às vezes até arrancava a camisa por causa do calor", diz. Foi surprendido por cobras e outros animais peçonhentos, mas nunca picado. Mudou de cultura, plantou mandioca e goiaba também, "qualquer coisa que aparecesse".

As geadas do final dos anos 70 desestimularam muitos plantadores de café da região de Ivinhema e a lavoura foi se diversificando. O ritmo de trabalho de Estaianov se manteve. Só deixou o campo para morar com o filho e a nora quando a saúde fraquejou. Há alguns anos, ele se submete com frequência a exames de todos os tipos, cujos resultados armazena com organização em um envelope branco.

Hoje, oito meses depois de ter parado de caminhar por conta de um problema na perna, Estephano Estaianov visitou o atendimento médico da Bandeira Científica montado na creche Aurelina Nery. Em sua cadeira de rodas, esperou com bom humor pela sua vez de fazer triagem e de responder ao questionário epidemiológico. "Quem sabe a fisioterapia não ajuda", comentou ainda na fila. Como é diabético, Estaianov também fez um exame de sangue, cujo resultado soube na hora.


Depois de alguns minutos, havia passado por todas as etapas do atendimento. Só teve que pular a antropometria, devido a sua impossibilidade de ficar em pé. Mas ele se prontificou a informar seu peso e a altura registrada em sua última medição - que aconteceu na época em que fez Tiro de Guerra.

Um comentário:

Lucia Estaianov disse...

Meu tio que saldade..homem que deixou seu exemplo a toda família. Saldades eterna