terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Fim de Bandeira.

Estudantes cansados, mal-dormidos, mas satisfeitos.

Em palavras seria dificil descrever como foi o projeto, seja em qual âmbito ele se cumpre: nos atendimentos em diversos locais, nas palestras, na relação com estudantes de diversas áreas e com os colegas maranhenses, e principalmente na relação com a população. São quase 300 estudantes e milhares de penalvenses atendidos. Não deixa de ser uma grande invasão acadêmica na cidade, a chegada de indivíduos providos de conhecimento científico se relacionando com pessoas simples, possuidoras da sabedoria popular na qual estão inseridas desde o nascimento. Este encontro de diferentes culturas pôde ocasionar benefícios e prejuízos entre as partes.

Todos têm muitas histórias para contar. É fato que os responsáveis pelo blog, sozinhos, não conseguem dar conta de toda a vivência que aconteceu por aqui. Por hora, fiquemos com alguns aspectos: o calor, a carência da cidade, a beleza natural da região da baixada maranhense (sobretudo para os estudantes que se locomoveram para os povoados de Jacaré, Caminho Novo, São Brás, etc), a fauna da cidade (urubus, porcos, aves e bois andando pela cidade, além dos búfalos e jumentos na zona rural), os mototaxis, o guaraná Jesus, enfim, são ainda palavras.

Amanhã bem cedo retornamos para São Luiz e, ao que tudo indica, a volta para São Paulo será na mesma noite. A todos, fica o sentimento de despedida, de grandes experiências vividas, de trabalho minimamente cumprido e de um futuro retorno à cidade, a fim de garantir a continuidade do projeto, tão importante para a Bandeira Científica.

Feira livre

8h da manhã. O lago Cajarí, no centro de Penalva, estava um alvoroço. Os barcos dos pescadores chegavam nas margens cheios de piranhas, mandis, surubins, tubis, bagrinhos, violas, camarões gigantes... Atravessadores (que compravam dos pescadores pra vender na feira da cidade) mal deixavam os barcos atracarem e se aglomeravam em volta deles para pegarem os melhores pescados.

8h da noite. A sala de suprimentos da diretoria do Bandeira Científica estava um alvoroço. As caixas de papelão se abriam para o alojamento cheias de Zolbeins, Novalginas, Naldecons, AASs, Flagyls, Paracetamols, Neosaldinas... Alunos da USP, UFMA, UEMA e CEST mal deixavam as caixas serem abertas por completo e se aglomeravam em volta delas para pegarem seus próprios estoques de medicamentos.

8h30 da manhã. Os barcos esvaziavam rapidamente. Os peixes que traziam mal davam para matar a fome dos atravessadores. Mas a demanda do mercado de peixes da cidade tem um limite. Pesca-se uma quantia adequada para a venda. Assim, os peixes nunca são escassos em Penalva. A quantidade de pescados miúdos que sobrou de um atravessador seria destinada ao estômago de seu macaco-prego, o Chico, que também bebe guaraná Jesus.

8h30 da noite. As caixas esvaziaram em dois tempos. Os medicamentos que continham mal deram pra matar a fúria dos hipocondríacos. A demanda do mercado de medicamentos da Bandeira Científica é ilimitada. Os alunos querem sempre mais um comprimidinho pra verme, pra dor de cabeça, pra gripe, pra insônia, pra vaginite e pra toda a família. O número de remédios que sobrou dos atendimentos e seria destinado aos postos de saúde da cidade está menor depois do arrastão dos estudantes.

No dia seguinte, a história se repetirá para pescadores, atravessadores, peixes, consumidores. A pesca e a feira continuam. Mas para os estudantes foi a última noite de expedição. Acabaram os atendimentos. E enquanto os penalvenses do cais põem o pé na água, os integrantes da Bandeira põem o pé na estrada rumo às praias de São Luiz.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Intervalo improvisado, ânimo renovado

Díficil dizer se foi a canícula penalvense que deu uma trégua ou se foram os intrépidos bandeirantes que aos poucos se acostumam com a metereologia local, mas estar melado o dia inteiro tornou-se rotina e hoje é apenas "papo de elevador" de uma cidade que não tem prédios.

Contudo, o cansaço pegou. Todos concordam que o ritmo está puxado e lembrando que o "social" (dia de folga) teve de ser cancelado, a solução foi uma: um pouco de sombra e cerveja fresca na Escola Caldas Marques, onde a maioria dos 300 bandeirantes está instalada. Sim, cerveja apenas fresca, mas está valendo! A integração São Paulo-Maranhão agradece.

Pela manhã, os rostos inchados denunciavam o convescote, que felizmente não contou com imprevistos de exageros etílicos. Os atendimentos correram bem durante o dia. O cansaço passa a fazer parte de cada um, mas a satisfação de contribuir minimamente com esta população e também aprender com a simplicidade deles mantém os motores funcionando.

Passamos a metade de nossa jornada. Restam apenas três dias de atividades antes da partida. Paira no ar a dúvida de quão válida terá sido nossa passagem por esta cidade de 30 mil habitantes da baixada maranhense - tão rica em sua peculiaridade quanto nos problemas crônicos aos poucos evidenciados. Que seja a Dona Efigênia ter aprendido a tratar a própria água de beber, a dona Antonina que pela primeira vez em 77 anos terá óculos ou, quiçá, um governo que possa por em prática políticas públicas de saúde propostas pelo diagnóstico de saúde elaborado pela Bandeira... enfim, terá valido.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Conhecendo Jacaré..

Hoje vários bandeirantes deixaram a sede em Penalva rumo ao povoado de Jacaré. Com a chuva de ontem, a estrada não era das melhores e encontramos, inclusive, o ônibus que tinha ficado atolado na noite de ontem. A situação do ônibus era tão crítica, com as rodas dianteiras enterradas até a metade numa terra preta e fofa, que o pessoal da região disse que se ele não fosse rebocado hoje e se, além disso, chovesse ainda mais, o ônibus teria de ficar ali até o verão do ano que vem!
Mas no fim deu tudo certo e, no caminho de volta, ele já havia sido resgatado...

Além dos diversos atendimentos realizados pelas equipes de medicina, nutrição, fono, terapia ocupacional, fisioterapia etc, que lotaram o hospital do povoado de pacientes, a Poli e a equipe de comunicação também estavam presentes.

A Poli trabalhou com as escolas da região por meio de palestras educativas para as crianças e um grande levantamento das condições desses locais de ensino. Nas proximidades do Jacaré, existem diversos povoados menores com condições precárias. Apesar da falta de luz, da dificuldade de acesso - principalmente no "inverno" quando a região alaga- a população se vira muito bem.

Conhecemos escolas de taipa (pau-a-pique) e a Dona Marinalva que há 35 anos ensina as primeiras contas e palavras para as crianças de sua vizinhança. Conhecer pessoas da região e suas histórias de vida é um dos trabalhos da equipe da ECA. Elas inspiram futuras reportagens e um documentário em pleno processo de produção.

Depois do almoço no hospital, tivemos de voltar para Penalva, pois o nosso motorista estava bem preocupado em atolar o carro na estrada com a chuva eminente. Mas deixamos uma parte de nossa equipe por lá para registrar outras peculiaridades do Jacaré. A chuva não veio, mas o caminho é longo, o ônibus pesado, e assim, eles ainda não chegaram à sede para o jantar com as novidades.

Esta noite tem festa no alojamento e o famoso social entre as galeras da USP, UFMA, UEMA e CESP. Ao som do forró maranhense, iremos trocar boas histórias e inspirações para o dia e o blogue de amanhã!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O solzão forte deu trégua

Hoje, choveu em Penalva. Descobrimos que, apesar da sensação de 40º a sombra, da suadeira constante e da vontade de tomar dez banhos por dia, estamos no "inverno" maranhense. Antes da estação das chuvas chegar, os moradores brincavam que o calor era tão forte que a água usada pra se banhar virava suor antes mesmo de chegar no chão.

Choveu tanto que a galera que estava fazendo os atendimentos no povoado de Jacaré ficou atolada no caminho de volta para o alojamento. Foi preciso enviar um outro ônibus para o local, desta vez dirigido por um motorista que conhecia o caminho como a palma da mão, e um trator para resgatá-los. Logo devem estar de volta para o jantar.

Apesar de faltar na hora de tomar banho, por causa da chuva, a água está sobrando no jardim do alojamento, que está inundado. Foi preciso chamar pedreiros pra resolver o problema - cadê a equipe da Poli nessa hora?!

Verão ou inverno. Aqui não tem estação "das florzinhas", diz o médico Seu Nonato... mas tem cada fruta...

Pela manhã, Dona Cândida, agente de saúde - presidente de associação - lavradora - enfermeira - professora - e outras mil utilidades, nos presenteou com coco colhido e aberto na hora e tuturubá, uma frutinha esquisita que amarra na boca. Na casa de Dona Lorena, experimentamos leite com chocolate, feitos de babaçu - aliás, eita plantinha multiuso! - vimos a preparação de vinho de açaí e comemos cacau-do-mato e cupuaçu no pé.

Com as frutas tudo ótimo, mas com a carne... é melhor abrir o olho! Nossa equipe visitou hoje o matadouro de Penalva, que é a única fonte de abastecimento de carne bovina da cidade, apesar de estar interditado há quatro anos! Ficamos chocados com a falta de higiene. Os bois são mortos de madrugada porque não há refrigerador e assim eles precisam ser vendidos ainda frescos pela manhã. O que sobra do mercado, é salgado no meio da rua: a famosa carne seca. Os restos do boi ficam no local alimentando os urubus e as moscas.

Pelo menos os integrantes da Bandeira Científica podem ficar tranquilos. A carne do nosso cardápio vem do frigorífico de Viana, uma cidadezinha vizinha.

Agora é hora de cervejinha numa das praças penalvenses. Um breve descanso, antes de um novo longo dia de trabalho.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Dupla personalidade

Em Penalva, os porcos pensam que são cachorros, e os urubus, galinhas. Estão por toda parte, e não se incomodam com carros, motos e paulistanos. O carro-de-boi é uma alternativa de transporte muito usada aqui na cidade, curiosamente é dificil encontrar uma carroça puxada por cavalo.
Depois de atropelar (sem graves ferimentos) um sujeito alterado etilicamente, a equipe de comunicação da Bandeira conseguiu cumprir suas primeiras missões em Penalva. Pela manhã o grupo acompanhou o início dos atendimentos na escola ex-governadora Roseana Sarney.
Verificou-se que a Força Nacional foi escalada desde São Luiz a fim de evitar qualquer ocorrencia desagradável durante a presença da Bandeira na cidade.
Durante a tarde, a Escola Politécnica analisou a condição das vias públicas municipais. Eles esperam desenvolver, até o final do projeto, um relatório com propostas para a melhoria da infra-estrutura da cidade. (a gente só espera que os pobres bois não percam o emprego!)
A Bandeira Científica segue sua programação normalmente (mas sem os "sociais"). Palestras e atendimentos serão realizados a semana inteira, bem como visitas à zona rural e povoados distantes.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Avante

Olá pessoal

Finalmente a FAB confirmou os vôos que vão levar os bandeirantes para Penalva, nesta terça feira. O Boeing que foi prometido teve que ser usado em uma missão urgente da Força Aérea, então eles disponibilizaram dois aviões do modelo Hércules, como esse da foto ao lado.

Os bandeirantes mais aventureiros vão gostar da novidade, mas aqueles que preferem um pouco mais de conforto podem se sentir incomodados com a falta de assentos acolchoados e banheiros no avião. Além disso, esse tipo de aeronave faz um barulho ensurdecedor (é altamente recomendável o uso de protetores de ouvido durante a viagem).

Mas depois do susto que todo o grupo passou no domingo, com o cancelamento da viagem, nada como receber uma confirmação do major da Força Aérea, diretamente de Brasília

O primeiro avião vai partir às 10h da manhã de terça com 62 passageiros e 4 toneladas de material. Quem vai embarcar nesse vôo deve estar na Medicina às 5:30. O segundo parte às 18h, com 88 bandeirantes que vão se encontrar às 12h no mesmo lugar, já devidamente almoçados.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Miou, mas só por enquanto!

Olá pessoal!

Nove de dezembro de 2007, um dia tenso para a Bandeira. Sem muito atraso, mais ou menos às 6 horas, quatro ônibus partiram da Faculdade de Medicina, rumo à Base Aérea São Paulo, nas cercanias do aeroporto de Guarulhos.

Alguns alunos estavam na expectativa de entrar pela primeira vez numa base militar, outros queriam mais é chegar logo no Maranhão. Na base, todo mundo muito feliz, todo mundo muito contente. Depois que a Força Aérea pesou todos os bandeirantes e suas respectivas bagagens, as pessoas se ocuparam lendo, dormindo, passeando e dando uma canseira nos cadetes que tinham que correr atrás dos grupos que se dispersavam.

Muitos já sabiam que o avião estava com problemas e que o major ligaria em breve para confirmar o horário exato em que o avião chegaria. No entanto, tudo indicava que partiríamos naquele mesmo dia, com um pouco de atraso.

Lá pelas 11 da manhã, quem estava mais atento começou a perceber que pairava uma certa tensão nos "verdinhos" (diretoria), que andavam de um lado para o outro, no meio do estacionamento da base, procurando lugar na sombra para fazer uma reunião. Quem estava muito atento mesmo pôde perceber pelos rostos que o assunto não era nada bom.

De fato, não era. Foi dada a notícia de que o avião não ficaria pronto no domingo e sim na terça-feira. Ele vinha do Haiti quando teve uma pane perto da cidade de Boa Vista e naquele momento estava a caminho do Rio de Janeiro para o conserto. A diretoria estava reunida para discutir o que fazer em relação a isso e como passar a mensagem para os estudantes e discutidores já ansiosos.

A reação dos participantes em relação à notícia foi muito boa, apesar da pequena dose de desânimo, todos perceberam que não havia nada que poderia ser feito... o jeito era esperar até terça feira e reorganizar os cronogramas de atendimentos. Tudo indica que as atividades que seriam realizadas nos dois primeiros dias vão passar para o dia 14 e 19, nos quais estava marcado o "social".

Surgiram alguns boatos não confirmados acerca do problema no avião. Algumas fontes não muito confiáveis disseram que uma pomba teria sido sugada pela turbina. Quando se soube que o problema no Airbus era mais sério do que se imaginava, as mesmas fontes mudaram a versão, afirmando que o avião teria sido atingido por um dos enormes urubus penalvenses. Na realidade, o problema não foi especificado pelo comando da Força Aérea.

Danilo Bueno Ipolito
Equipe de Comunicação

domingo, 2 de dezembro de 2007

Olá pessoal!

Contagem regressiva para a Bandeira Científica 2007. Daqui a exatamente 7 dias, cerca de 170 estudantes e professores embarcam no Boing da FAB rumo à cidade de Penalva, no Maranhão.

Os participantes já ansiosos pela viagem compareceram hoje à Faculdade de Medicina da USP para conferir o horário em que os ônibus saem em direção à base aérea, no aeroporto de Guarulhos. A diretoria também passou outras informações úteis com relação ao andamento da organização do projeto até agora, algumas dicas de sobrevivência para enfrentar o calor maranhense e alguns pitacos sobre tendências da moda na Bandeira 2007.

Apesar de não existir avião grande o bastante para levar todo mundo que gostaria de levantar vôo com a Bandeira, todos estão convidados a participar um pouco do projeto, acompanhando esse Blog que deverá ser uma fértil fonte de novidades sobre as atividades em Penalva.

E esse humilde Blog já é inaugurado com um furo de reportagem! Sim.

Fontes secretas da equipe de Nutrição da Bandeira deixaram escapar informações sobre o cardápio que os bandeirantes vão enfrentar durante a expedição. "Enfrentar" parece ser uma palavra muito dura para o que poderia ser chamado de um senhor banquete! Não faltam frutas, verduras e legumes, carnes, sobremesas e suco para saciar a fome dos bandeirantes saciada e a preocupação das mães dos mesmos.

Mas a cereja do bolo do presente furo é o cardápio do dia do "social", 14 de dezembro. As fontes informaram que este foi o dia que a Nutrição escolheu para apresentar para os bandeirantes a diversidade da culinária maranhense. Algumas fontes, não tão confiáveis, disseram que este foi um recurso utilizado para que as atividades não fossem prejudicadas nos dias de atividade, caso algum estômago paulista recuse a comida típica maranhense.

Achismos à parte, o cardápio deste dia vai contar com vários petiscos interessantes. O dia de descanso e reuniões começa com bolo de macaxeira e banana-da-terra cozida. E isso é só para começar. Para a hora do almoço, quando o sol maranhense estiver a pino assim como a fome dos bandeirantes, será servido um belo baião de dois, com suco de buriti e salada de vinagreira e de sobremesa, rapadura. E a noite vai ser quente, com uma bela buchada, cará cozido, arroz de cuxá e o já consagrado suco de buriti. Sem esquecer da sobremesa, que promete: polpa de açaí com tapioca.

Preparados?