terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Feira livre

8h da manhã. O lago Cajarí, no centro de Penalva, estava um alvoroço. Os barcos dos pescadores chegavam nas margens cheios de piranhas, mandis, surubins, tubis, bagrinhos, violas, camarões gigantes... Atravessadores (que compravam dos pescadores pra vender na feira da cidade) mal deixavam os barcos atracarem e se aglomeravam em volta deles para pegarem os melhores pescados.

8h da noite. A sala de suprimentos da diretoria do Bandeira Científica estava um alvoroço. As caixas de papelão se abriam para o alojamento cheias de Zolbeins, Novalginas, Naldecons, AASs, Flagyls, Paracetamols, Neosaldinas... Alunos da USP, UFMA, UEMA e CEST mal deixavam as caixas serem abertas por completo e se aglomeravam em volta delas para pegarem seus próprios estoques de medicamentos.

8h30 da manhã. Os barcos esvaziavam rapidamente. Os peixes que traziam mal davam para matar a fome dos atravessadores. Mas a demanda do mercado de peixes da cidade tem um limite. Pesca-se uma quantia adequada para a venda. Assim, os peixes nunca são escassos em Penalva. A quantidade de pescados miúdos que sobrou de um atravessador seria destinada ao estômago de seu macaco-prego, o Chico, que também bebe guaraná Jesus.

8h30 da noite. As caixas esvaziaram em dois tempos. Os medicamentos que continham mal deram pra matar a fúria dos hipocondríacos. A demanda do mercado de medicamentos da Bandeira Científica é ilimitada. Os alunos querem sempre mais um comprimidinho pra verme, pra dor de cabeça, pra gripe, pra insônia, pra vaginite e pra toda a família. O número de remédios que sobrou dos atendimentos e seria destinado aos postos de saúde da cidade está menor depois do arrastão dos estudantes.

No dia seguinte, a história se repetirá para pescadores, atravessadores, peixes, consumidores. A pesca e a feira continuam. Mas para os estudantes foi a última noite de expedição. Acabaram os atendimentos. E enquanto os penalvenses do cais põem o pé na água, os integrantes da Bandeira põem o pé na estrada rumo às praias de São Luiz.

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