segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Primeiro dia de um jornalista bandeirante

Entre barulhos de chuveiro e despertadores, acordamos às seis da manhã para o café. Após um banho gelado os bandeirantes vão ao refeitório, organizado no country clube local. Dividindo espaço com parte das acomodações, piscina e quadra, tomamos café com pão e manteiga e nos preparamos para as visitas.

O grupo de jornalismo se divide e sigo com a as meninas da Escola de Agronomia (ESALQ). O dia com elas será de reconhecimento dos locais onde serão realizados os trabalhos. A primeira parada é a escola Olyntho Ribeiro Cardoso, onde serão construídas hortas e uma composteira. Até lá, conversamos sobre os planos para o assentamento que há na cidade, onde a equipe pretende seguir a agenda 21: atender as demandas da comunidade sendo apenas um facilitador na solução de problemas. Chegando na escola, descobrimos que ela já possui um pequeno projeto de horta idealizado pela diretora. Ele é cuidado por alunos, funcionários e voluntários, mas produz poucos resultados. A intenção é justamente criar um espaço de educação onde sejam produzidos diversos alimentos com adubo orgânico. Um projeto semelhante é organizado para a Escola Pedra Verde mas, lá, a Escola Politécnica planeja criar hortas suspensas ao invés das tradicionais.

Seguindo para a Casa de Juventude, paramos para nos encontrar com duas senhoras da comunidade rural de São José. Apresentadas pelo secretário Luis, da Agricultura, as alunas da ESALQ falam de seus projetos de produção de sabão com óleo de cozinha e manga desidratada, que animam bastante as moradoras da vila. Logo depois, na Casa da Juventude, as esalquianas, conhecem o espaço onde serão feitas palestras, oficinas de reciclagem, sabão e bijuterias, além da apresentação de vídeos. A casa é administrada pela comunidade católica papa XXIII, reconhecida pelo Vaticano como entidade cristã. Lá são dadas aulas de dança, karatê, capoeira, e pré-escola, além de haver uma grande quadra que os jovens podem usar no tempo livre. É muito interessante reparar em um dos muros da organização, que se assemelha mais a um aglomerado de galpões reformados que a uma casa, onde estão escritas as regras de convivências, a maioria priorizando o respeito ao corpo do próximo e seus direitos.

Passada a Casa da Juventude, o grupo retorna ao country clube para planejar-se antes do almoço. Enquanto isso, este jornalista que vos escreve perde-se pelo centro da cidade em busca de um banco e descobre as filas e a falta de intimidade com caixas eletrônicos no interior. Passado este teste de paciência, é posto o almoço e logo saímos para outras visitas.

Também perco o ônibus que acompanharia novamente a ESALQ e sigo com a odontologia. Durante o percurso, uma das dentistas conta das visitas domiciliares que fez na manhã. Ela se chama Camile e diz ter passado por três residências com profissionais da medicina e da fisioterapia. Na primeira delas encontrou uma senhora com mais de 80 anos e apenas alguns pares de dentes, vivendo com uma “cuidadora”. Por ter problemas de audição e visão, a coleta de dados foi difícil, mas depois de algum esforço a senhora aprendeu a andar com a ajuda de uma cadeira e foi encaminhada para a oftalmologia e otorrino. Camile, trabalhando sem equipamentos, pode apenas ensinar a maneira correta de higienização da boca. Durante a despedida, talvez pela ausência da família ou por um possível descaso da cuidadora, a senhora chorava, muito agradecida e comovida com a passagem dos médicos. Nas duas visitas seguintes a relação foi parecida. Primeiro uma mulher que sofria de elefantíase e nunca havia escovado os dentes e, depois, talvez o caso mais marcante. Um senhor de 76 anos que possuía uma perna atrofiada e tinha úlcera, mas ainda assim mostrava-se bastante disposto, movimentando-se pela casa apesar de praticamente se arrastar.

Passamos o resto do tempo do ônibus com piadas que apenas dentistas entendem e brincadeiras sobre as possíveis reportagens denúncia sobre a postura profissional dos odontólogos (isso, apenas na brincadeira, pois eles levam o trabalho muito a sério, pegandol umas das jornadas mais longas). Chegando à escola Olyntho Rodrigues, nos deparamos com o grupo de voluntários da Sanofi Aventis (principal parceira do Bandeira), fazendo uma palestra sobre dengue. Ao final, montadas as etapas de atendimento e finalizado o trabalho de conscientização e presenteamento das crianças pela Sanofi, começa o serviço. Em uma sala dois aluno davam uma palestra sobre higienização bucal enquanto o resto dos dentistas se dividiu em 4 grupos. O primeiro cuidava do exame clínico, fazendo triagem dos pacientes entre a restauração atraumática ou apenas a aplicação de flúor. Depois foi aplicado reativo à placa bacteriana, as cáries tratadas dentro do possível (curetagem - ou raspagem - do tecido cariado e aplicação de resina) e aplicado o flúor em todos os atendidos. O trabalho foi levado até as seis horas da tarde e depois, com o ônibus atrasado, esperamos jogando bola ao lado de um monte de estrume encomendado pela ESALQ.

No final do dia os alunos seguem para a janta e o banho. Apenas parte dos dentistas têm que se dedicar a fabricação de próteses dentárias durante a noite, as quais serão instaladas durante a semana. Apesar de todo o cansaço, poucos desanimam e seguem conversando e se conhecendo, embalados por algumas cervejas, até as duas da madrugada.

Por Pedro José Sibahi

Um comentário:

marcelo osakabe disse...

Pedro, você só acompanha grupos de meninas?
Brincadeira, boa sorte com o projeto.
Amanhã estamos embarcando para ribeirão preto!